quinta-feira, novembro 05, 2009

Xamanismo



Urarina Xamã, 1988
O xamanismo é um termo genericamente usado em referência a práticas etnomédicas, mágicas, religiosas (animista, primitiva) e filosóficas (metafísica), envolvendo cura, transe, metamorfose e contato direto entre corpos e espíritos de outros xamãs, de seres míticos, de animais, dos mortos, etc.
A palavra xamã vem do russo, tungue saman corresponde à práticas dos povos não budistas das regiões asiáticas e árticas especialmente a Sibéria (região centro norte da Ásia). Apesar, como assinala Mircea Eliade da especificidade dessas práticas na região (em especial as técnicas do êxtase dos tungues, Iacutes, mongóis, turco-tártaros etc.), não existe, contudo origem histórica ou geográfica para o xamanismo como conhecido hoje, tampouco algum princípio unificador. Outros nomes para sua tradução seriam feiticeiros, médico-feiticeiros, magos, curandeiros e pajés.


Antropólogos discutem ainda na definição xamanismo a experiência biopsicossocial do transe e êxtase religioso bem como as implicações sociais da definição do xamanismo como fato social, uma tradição equivalente à magia enquanto prática individualizada relacionada aos problemas e técnicas e ciência da sobrevivência cotidiana (agricultura, caça, medicina, etc.) ou ao fenômeno religioso, abstrato, coletivo, normatizador. (Dukheim, Mauss)

Xamã

O sacerdote do xamanismo é o xamã, que geralmente entra em transe durante rituais xamânicos, manifestando poderes incomuns, invocando espíritos, plantas etc., através de objetos rituais, do próprio corpo ou do corpo de assistentes e pacientes. A comunicação com estes aspectos sutis da vida pode se processar através de estados alterados de consciência. Estados esses alcançados através de batidas de tambor, danças e até ervas enteógenas.
As variações "culturais" são muitas mas, em geral, o xamã pode ser homem ou mulher, e muitas vezes há na história pessoal desse indivíduo um desafio, como uma doença física ou mental, que se configura como um chamado, uma vocação. Depois disto há uma longa preparação, um aprendizado sobre plantas medicinais e outros métodos de cura, e sobre técnicas para atingir o estado alterado de consciência e formas de se proteger contra o descontrole.
O xamã é tido como um profundo conhecedor da natureza humana, tanto na parte física quanto psíquica.
De acordo com Eliade, entre os manchus e os tungues da Manchúria a tradição dos dons xamânicos costuma ser feita de avô para neto, pois o filho ocupa-se em prover as necessidades do pai, isso no caso dos amba saman (xamãs do clã). Os xamãs independentes seguem a sua própria vocação. O reconhecimento como xamã só pode ser feito pela comunidade inteira depois de uma prova iniciática. Ainda segundo esse autor das referências a distúrbios psicológicos (especialmente no processo de formação) o ideal iacuto de um xamã é: um homem sério, que sabe convencer os que estão à sua volta, não presunçoso nem colérico. Entre os kazak-quirguizes o baqça, guardião das tradições religiosas é também cantor, poeta, músico, adivinho, sacerdote e médico.
Talvez pela experiência do sofrimento antes da iniciação ou experiência de possessão o xamã é confundido com indivíduos portadores de distúrbio mental tipo epilepsia, histeria e psicose, Lévi-Strauss citando os estudos de Nadel e de Mauss na introdução à obra de Marcel Mauss afirma que ...existe uma relação entre os distúrbios patológicos e as condutas xamanísticas, mas que consiste menos numa assimilação das segundas aos primeiros do que na necessidade de definir os distúrbios patológicos em função das condutas xamanísticas... afirma ainda, baseado em estudos comparativos, que a freqüência das neuroses e psicoses parecem aumentar nas regiões sem xamanismo e que xamanismo pode desempenhar um duplo papel frente as disposições psicopáticas: explorando-as por um lado, mas, por outro canalizando-as e estabilizando-as

Xamanismo entre os Vikings (Seiðr)

O seiðr, em muitos casos, foi descrito como uma feitiçaria realizada para “ferver” certos objetos imputados de poderes mágicos, sendo basicamente utilizado como um rito adivinhatório ou para assassinato, ou ainda como prescreve Boyer, relacionado a três ações básicas: prever o futuro, aprisionar, causar doenças/desgraças ou matar. A tradução do termo varia segundo os pesquisadores, mas geralmente é interpretada como sendo canto. Tratava-se de um ritual mágico de tipo divinatório e profético, com conotações xamanistas e uma arte mágica criada pela deusa Freyja. Era um tipo de magia extática com transe, êxtase do celebrante e cantos da assembléia, geralmente realizada durante a noite e praticada sobre uma plataforma chamada de assento para encantamento (seiðhjallr). A sua realização era conectada com sons mágicos ou encantamentos, e a melodia era considerada bonita para os ouvidos. Também compreendia fórmulas mágicas para chamar tempestades e todos os tipos de injúrias, metamorfoses e predições de eventos futuros. Criada pela deusa Freyja, era praticada especialmente por mulheres chamadas seiðkonur (sing. Seiðkona). Para Neil Price seria antes de tudo uma forma de extensão do espírito e de suas faculdades, enquanto que para Zoe Borovsky a performance do seiðr simbolizaria o modelo vertical de universo (cosmológico) da árvore Yggdrasill. Como para o xamã, a praticante de seiðr devia descer ao mundo dos mortos para relatar os ensinamentos que buscam os vivos e para efetuar certos malefícios. A magia nórdica era tanto praticada por homens quanto por mulheres, com uma nítida especialização feminina. As Sagas estão repletas de práticas mágicas, mas maiores detalhes sobre o ritual do seiðr são desconhecidos.,

Xamanismo no Brasil


O xamanismo é constante em diversas manifestações indígenas brasileiras. A palavra "pajé", de origem Tupi, se popularizou na literatura de língua portuguesa em referência ao xamã. Seu estudo, descrições de caso e comparação, tem sido recomendado para facilitar a implementação de práticas de assistência à saúde culturalmente adequadas no Brasil a cerca de 4.000 índios pertencentes a 210 povos sob a responsabilidade da FUNAS - Fundação Nacional de Saúde desde agosto de 1999
Xamanismo ou Pajelança – Comunicação com os encantados e entidades ancestrais através de cânticos, danças assim como nos índios Guarani Kaiová e utilização de instrumentos musicais (maracá, zunidores) para captura e afastamento de espíritos malignos tipo mamaés, anhangás, utilização do jejum, restrições dietéticas, reclusão do doente, além de uma série de práticas terapêuticas que incluem: o uso do tabaco (o pajé fuma grandes cachimbos) e outras plantas psicoativas, aplicação de calor e defumação, massagens, fricções, extração da doença por sucção/ vômito, escarificação no tórax e locais inflamados com bico, dentes de animais ou fragmentos de cristais
No Brasil rural e urbano, apesar da tradição multi-étnica dos ameríndios, observa-se a presença dessas práticas médicas-religiosas em comunhão com rituais católicos e espiritualistas de origem africana. Esse xamanismo é conhecido em algumas regiões como pajelança cabocla, culto aos encantados, toré, catimbó, candomblé de caboclo, culto a Jurema sagrada.
Atualmente no Brasil existem várias vertentes de neo-xamanismo ou xamanismo urbano, entre estas linhas diversos grupos se reúnem para estudar e trocar conhecimentos sobre o tema.

Fontes

  • Através do "Mbaraka': música e xamanismo guarani.
  • Um estudo sobre as religiões afro-brasileiras e a Saúde Coletiva - SUS
  • LANGER, Johnni. Religião e magia entre os vikings (Seidr). Brathair 5 (2) 2005.
  • DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. SP, Paulinas, 1989
  • ELIADE, Mircea. Xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase. São Paulo: Martins Fontes, 2002
  • MAUSS, Marcel Esboço de uma teoria geral da magia in Sociologia e antropologia (com introdução de Lévi-Strauss). SP, Cosac Naif, 2003
  • DEAN, Bartholomew 2009 Urarina Society, Cosmology, and History in Peruvian Amazonia, Gainesville: University Press of Florida ISBN 978-081303378 [1]

Leituras

Langdon, E.J.M. (org.). Xamanismo no Brasil, novas perspectivas. UFSC, 1996.
Bastide, Roger. Candomblé da Bahia, rito Nagô. São Paulo , Companhia Editora Nacional, 1961. 370 p. (Brasiliana, v. 313).
Bruce, Albert. O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia política da natureza, in: Albert, Bruce & Ramos, Alcida R. 2002 Pacificando o Branco. Cosmologias do contato no norte amazônico, São Paulo: Editora UNESP
Coelho, Vera Penteado, Os alucinógenos e o mundo simbólico. SP, EPU Ed.USP, 1976
Lévi-Strauss, C. O Pensamento Selvagem São Paulo, Companhia Ed Nacional, 1976
Martius, C.F.P. von. Natureza, doenças, medicina e remédios dos índios brasileiros, 1844. SP Cia Ed Nacional - Brasiliana, 1939
Metraux, Alfred. A religião dos tupinambás e suas relações com as demais tribos tupi-guaranis. SP, Ed Nacional (Brasiliana 267), Ed. USP, 1979
Needleman, J.; Lewis D.. No caminho do auto conhecimento, as antigas tradições religiosas do oriente e os objetivos e métodos da psicoterapia. SP, Pioneira, 1982
Sangirardi Jr. O índio e as plantas alucinógenas. RJ, Alhambra, 1983
Villas Boas, Orlando. A arte dos pajés, impressões sobre o universo espiritual xinguano. SP, Globo, 2000

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

2 trocaram ideia:

Confissões de Lolita

O Xamanismo, é de fato, exclusivamente de homens da floresta. Minha região tem bastante disso.
Usa-se quase que exclusivamente a ayhauasca em rituais para a limpeza do corpo e da alma, além da eliminação de doenças.
Já tomei. Confesso que é alucinógeno, mas tem sim sua magia dentro do mundo espiritual.
Particularmente, eu gosto.
Abraço!
o/

Anônimo

Urarina Society, Cosmology, and History in Peruvian Amazonia.
By Bartholomew Dean, 2009, University Press of Florida

http://www.amazon.com/Urarina-Society-Cosmology-Peruvian-Amazonia/dp/0813033780

The Urarina are an indigenous group found in the Peruvian lowlands. Seemingly isolated, they actually have a long history of engaging in networks of trade with outside groups, argues Bartholomew Dean in this first ever ethnography of the group.

Dean describes the surroundings and circumstances under which the Urarina live, focusing on such hot-button issues as globalization, inequality, and debt. He challenges the view of "pristine" Amazonian society by revealing the region's long history with agents of international capital. By showing how the Urarina are engaged with global, national, and regional economies, he reveals the ways those interactions shape their day-to-day life.

Based on more than a decade of field research in Peru, Dean's analysis touches on kinship and power, the exchange of goods such as cloth and forest game, land use, and the importance of narcotic trance, myths, and shamanic wizardry. Grounded in observation rather than mere theory, the book offers a new and more complex form of the traditional anthropological ethnography.

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