
Ela morava numa casa que crescia. E isso era encantador. Como descobrir que sua namorada é fã da mesma banda predileta que os dois idolatraram quando adolescentes. Ou quando se descobre que ela ainda sabe solar sua música preferida. Era a mesma sensação.
Eu tinha obsessão por casas que cresciam. E acreditava que todo dono desse tipo de construção era alguém digno de respeito profundo. Donos de casas que cresciam eram pessoas que sabiam controlar concreto e vigas, janelas e corredores, portas e saídas. Nada por dentro era torto ou incômodo. Tudo se adaptava e tudo se desenvolvia.
Ela ainda tinha aquele sorriso vermelho fruta cor. Os cabelos perfumados e as unhas compridas leitoras de Quintana.
Partiu meu coração quando disse que ia embora numa quarta-feira. Disse que necessitava conhecer o mundo e que precisava de nada mais do que uma lanterna e uma barraca de camping.
- Barracas de camping não crescem, eu indaguei.
- Pois é, ela disse sem dar apoio.
Fiquei mais de duas semanas olhando para a mesma construção parada, abandonada por ela. Estava lá, perfeitinha, em pé, intacta de movimento. Ouvi um boato de que alguém na Irlanda estava começando uma campanha de barracas que cresciam pra dentro. Eu tinha certeza que era ideia dela, mas não me abalei. Eu queria coisa de cimento e ela só ia me dar espaço.
Às vezes eu dou uma quebradinha na parede do quarto só pra fingir que também sei movimentar. É, sei, é coisa de coração partido...
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